NOTAS SOBRE A CRIAÇÃO DA SÉRIE “MESSAGES FROM A SOCIAL DISTANCE”

A série iniciou como uma maneira de expressar minha frustração pessoal com a necessidade de me isolar durante a pandemia do covid-19 e meus sentimentos sobre como esse isolamento afeta nossa visão sobre a vida antes da pandemia se instalar e após esta terminar.

Sempre fui alguém que acredita na importância de agir concretamente sobre os pensamentos e sentimentos e o fato de ter que permanecer em casa causou-me um certo nível de frustração, por passar a depender quase 100% de interações virtuais, ao invés de interação humana concreta e real. Como alguém que sempre abraçou os avanços tecnológicos no mundo on-line, fiquei surpreso com o nível de exasperação que senti ao ser condenado a usar o SkypeTM, WhatsAppTM, MessengerTM e ZoomTM para me comunicar, mesmo que eu estivesse costumado a utilizar esses serviços diariamente. Logo percebi que minha irritação era psicológica. Era o fato de eu não ter mais escolha. De repente, a comunicação on-line parecia muito mais superficial do que no passado, muito mais rasa, menos apta a satisfazer as necessidades humanas básicas.

Esses pensamentos me levaram à consideração de temas sociais mais filosóficos relacionados a como a vida poderia se desenrolar caso fôssemos forçados a aceitar tais restrições de maneira mais permanente, quer seja por causa de outras pandemias ou por conta dos danos ​​permanentes e irreparáveis ao meio ambiente. Pode ser um clichê dizer que não apreciamos o que temos até perdê-lo, mas é absolutamente irrefutável. Meus pensamentos se voltaram para estudos que sugerem que nos próximos trinta a quarenta anos, até 30% da força de trabalho atual será redundante e substituída por robôs e outras formas de inteligência artificial, sinalizando o surgimento de uma nova forma de polarização e isolamento – uma divisão entre aqueles cuja presença a sociedade julga relevante e os que não servem a nenhum propósito útil. Como seremos capazes de saltar de nossa mentalidade atual para uma realidade tão estranha? É fácil dizer que podemos reestruturar a educação para garantir que as pessoas consideradas redundantes encontrem trabalho útil em uma nova sociedade dominada pela IA, porém nem sequer começamos a reestruturar os sistemas educacionais a fim de nos prepararmos para essa eventualidade. Na maioria dos países, já é tarde para evitar grande parte dos problemas que isso ocasionará. Como aqueles cuja presença é considerada desnecessária do ponto de vista social produtivo enfrentarão o desafio da existência? Serão como nós hoje – isolados, sequestrados e separados do mundo real? Como será a comunicação entre os que são considerados produtivos e os improdutivos? Serão capazes de falar a mesma língua ainda que usem o mesmo idioma? O isolamento, independentemente da razão, muda uma pessoa, e o isolamento num contexto coletivo gera uma mudança social nunca antes enfrentada. Contudo, seria essa polarização realmente tão diferente da polarização que já ocorre em relação aos pobres e dispensáveis, a qual caracteriza a estrutura social de tantas nações? Em um sentido muito real, não é assim que já se sentem?

E assim, essa série resulta de um amálgama de pensamentos, da confusão e do sofrimento latente que tais reflexões inevitavelmente provocam e revelam. A decisão de usar o vídeo como base para o projeto se deu pela necessidade de incluir a passagem do tempo com o objetivo de criar a tensão que eu estava procurando. A escolha dos trípticos de vídeo nasceu do meu desejo de justapor tanto elementos diretamente relacionados quanto aqueles aparentemente não relacionados. Também senti que era importante não ter muito tempo para refletir sobre o que e como iria filmar. Por isso, formulei o seguinte conjunto de simples regras para formatar a criação dos vídeo de modo a garantir espontaneidade e reduzir uma excessiva fundamentação racional:

  • Todos os dias, durante seis dias consecutivos, eu faria três vídeos que formariam um tríptico.

  • Os três vídeos seriam feitos em no máximo 15 a 20 minutos.

  • As filmagens seriam feitas com um celular.

  • O artista deveria aparecer em pelo menos um dos vídeos do tríptico.

  • A pós-produção das imagens envolveria o uso de várias técnicas para tornar as imagens mais primitivas, menos nítidas e com menos precisão para obter uma sensação de interferência descontrolada.

  • Um tríptico fotográfico seria extraído de cada um dos seis trípticos de vídeo. O tratamento dessas imagens fixas envolveria o uso de uma borda colorida ampla e um contraste de cores aprimorado para ajudar a criar uma "presença de quietude" e compensar a ausência de um parâmetro temporal.

  • Cada imagem fotográfica incluiria um código QR vinculado ao vídeo tríptico original.

Florianópolis / SC, Brasil, 29 de maio de 2020

R. Scott MacLeay