PENSAR, SENTIR, VER
Pensar, Sentir, Ver: Percepção e processo em fotografia
De Scott MacLeay
Esta coleção de ensaios é um olhar provocante, cosmopolita e altamente pessoal sobre o processo de conceituar e fazer imagens fotográficas hoje, e a importância da polinização cruzada com os processos criativos que enquadram outras formas de expressão artística nas artes visuais e performáticas. Como um artista que acredita firmemente na importância da partilha irrestrita de informações, técnicas e processos, o objetivo de MacLeay ao apresentar esta coleção é claro desde o início: incitar constante o questionamento do status quo, promovendo a exploração de estruturas conceituais alternativas afim de provocar análises, debates e mudanças inovadoras na forma como abordamos e definimos a fotografia contemporânea.
A Editora Photos lança o livro do fotógrafo Scott Macleay que provoca uma análise mais profunda sobre como identificamos a fotografia contemporânea.
O livro “Pensar, Sentir, Ver – percepção e processo em fotografia”, do fotógrafo Scott Macleay foi lançado em pré-venda hoje, 20, pela Editora Photos. O fotógrafo está participando do Festival de Fotografia de Tiradentes, o Foto em Pauta, desde quarta-feira, 18, até domingo, 22, onde está lançando o livro em pré-venda também.
Para a gerente de vendas, Jorgiane Ewald, este livro é um marco na história da Editora Photos, pois o objetivo desta obra é provocar uma análise mais profunda sobre como identificamos a fotografia contemporânea. “Tenho certeza que, ao lerem o livro, que se trata de uma verdadeira obra de arte, seus olhares e conceitos sobre cor, composição e processo criativo ficarão mais enaltecidos”.
Para aproximar o leitor do trabalho do fotógrafo e da abordagem do livro, o Portal Photos realizou uma entrevista com o fotógrafo que compartilha seus conhecimentos, experiências e trabalhos. Confira!
Portal Photos: Como foi seu primeiro contato com a fotografia?
Scott Macleay: Foi puramente por acaso. Eu estava entediado com meus estudos de doutorado em teoria econômica, em Vancouver, em 1975, e decidi fazer um curso em técnicas de laboratório em fotografia P&B, apenas para distrair. Foi um curso noturno de 8 semanas, com uma aula por semana e quando terminado, parei meus estudos de doutorado, devolvi o dinheiro da bolsa e comecei a aprender como fazer imagens.
Em um ano eu estava trabalhando comercialmente, fazendo retratos editoriais e trabalhos de moda. Fui atraído rapidamente pelo trabalho em cor e comecei a experimentar com uma nova geração de paletas de cores em 1977. Trabalhei meses no estúdio para ganhar controle sobre as cores que eu queria, estudando e testando centenas de combinações de texturas de tecidos e papéis e saturações de cor utilizando diferentes qualidades e diferentes tempos de exposição e de revelação de filme. Este trabalho permitiu-me criar a paleta e a sensação bidimensional necessárias para a minha primeira série “ATTITUDES”, iniciada em Vancouver em 1978 e terminada em Paris, em 1980. Quando ATTITUDES foi concluída, eu já não fazia qualquer trabalho comercial e estava firmemente empenhado em fazer trabalho autoral de cor, mesmo que este ainda fosse relativamente raro na época. A tirania da fotografia P&B full frame ainda tinha um forte controle sobre a mídia.
PP: É possível perceber traços comuns em suas fotografias. Como você definiria seu estilo fotográfico?
SM: Eu não acho que tenho um estilo, pelo menos não no sentido tradicional do termo e para ser honesto, particularmente não gosto da palavra estilo. É um conceito que me parece estar muito ligado a preocupações estéticas e, na maior parte dos casos, ligado a critérios de orientação comercial.
Se por esta questão você quer perguntar como eu qualificaria o meu trabalho, então eu posso tentar uma resposta. Eu diria que meu trabalho sempre esteve preocupado com o desenvolvimento dos processos conceituais e técnicas ao serviço de expressar ideias/sensações/estados de espírito de natureza bastante intangível. Eu nunca estive preocupado com a transmissão de mensagens ou em tentar reunir pessoas em prol de uma causa. Conteúdo no sentido tradicional de representar em duas dimensões um mundo a minha volta de 3 dimensões não é de meu interesse e nunca foi. Talvez o meu trabalho seja visualmente diferente da maioria dos outros trabalhos, porque seu conteúdo não dita suas qualidades estéticas. O resultado visual nasce de exigências ditadas pela estrutura conceitual.
PP: Atualmente, seu trabalho é mais autoral e artístico do que comercial. Como funciona viver de arte no Brasil? E como você avalia a importância de conhecer novas artes para agregar na fotografia?
SM: Eu parei de fazer trabalho comercial em 1980. Percebi que tinha que me dedicar ao meu trabalho autoral. Não foi uma escolha. Era imperativo. Logo no início eu ganhava a vida em Paris, uma vez que fundei o Departamento de Fotografia no American Center for Artists in Paris, uma instituição avant-garde de artes contemporâneas independente, sem fins lucrativos, tornei-me diretor do seu prestigioso Center for Media Art and Photography. Anos e anos a renda vinda da venda de obras tornou-se uma importante fonte também. Quando deixei a fotografia por quase 12 anos para compor música contemporânea para a dança, vídeo arte, cinema de formato especial e meu grupo de pesquisa Private Circus, eu ganhava a vida a partir dos royalties sobre minhas composições, bem como com o meu trabalho de consultoria e produção no campo áudio-visual. Eu sempre fui uma pessoa muito ativa e uma pessoa muito curiosa. Eu também tenho muita sorte. A sorte tem um papel, que as pessoas queiram admitir ou não.
No Brasil, é mais difícil viver de sua arte, mas isso não deve ser visto ou usado como uma desculpa. Quando você é um artista, você deve produzir um trabalho e assim você faz o que tem que fazer para produzi-lo. Claro, isso inevitavelmente envolve concessões, mas ser um artista não é uma escolha. É como o vício em drogas. Você precisa de sua dose diária. Eu aconselho aos jovens artistas de obter qualquer emprego a tempo parcial possível, que lhes permita continuar produzindo. Para os artistas visuais isto é mais fácil do que para os dançarinos, por exemplo. Dançarinos tem que ter aulas rigorosas e ensaiar todos os dias durante todo o ano. É muito mais difícil para eles encontrar atividades que não interfiram com a sua capacidade de fazê-lo com a dedicação necessária.
Sinto que os fotógrafos foram se escondendo atrás de suas tradições por muito tempo, isolando-se voluntariamente como algum tipo de caso especial nas artes visuais. Quase todas as grandes revoluções e evoluções do século 20 passaram despercebidas por eles. Eu não posso enfatizar suficientemente a importância de compreender os processos que enquadram as criações em outras formas de arte. Como viajar a culturas estrangeiras a experiência abre nossa mente. Como já afirmei anteriormente, pintura, performance, música e dança contemporânea todos tiveram impactos enormes sobre as maneiras em que eu abordo minha tomada de imagem.
PP: Sobre o livro “Pensar, Sentir, Ver”, o que você espera passar com ele? Qual o público que você pretende atingir?
SM: Meu trabalho no Brasil foi bem diferente do meu trabalho fotográfico anterior, mas muito parecido com minhas composições musicais. Talvez devido a minha idade, ou pela mudança no ambiente cultural ao mudar de Paris para Florianópolis, tive uma perspectiva diferente sobre o meu desenvolvimento como artista ao longo do tempo. Escrever sobre a jornada, minhas influências e os fatores que eu pensei ter feito minha viagem única parecia ser uma forma de esclarecer ainda mais as coisas. Esta coleção de ensaios “Pensar, Sentir, Ver” começou como artigos na Photo Magazine e cresceu em uma coleção bastante densa de pensamentos sobre o processo de tomada de imagem em fotografia no século 21 com base em minhas experiências e trabalho.
Então penso que pode-se dizer que escrevi os ensaios por essencialmente duas razões:
Em primeiro lugar para esclarecer meus próprios pensamentos sobre a natureza e evolução dos processos que têm enquadrado minha criação de imagem por quatro décadas.
Em segundo lugar para fornecer um guia prático para se libertar das regras e regulamentos tradicionais, que na minha opinião tem sufocado a fotografia nos últimos 70 anos. Eu não quero que as pessoas façam imagens como as minhas ou como as de qualquer outra pessoa. Eu quero que encontrem seus próprios oásis no deserto e isso geralmente significa perder-se em primeiro lugar e aprender a gerir e explorar este estado instável de coisas.
A arte é sobre fazer perguntas, e não sobre o fornecimento de soluções ou respostas às perguntas. Este é o trabalho fotográfico comercial. Se o livro ajuda os fotógrafos a questionar por que e como eles fazem o que fazem e incita-os a experimentar com outras opções e aprender sobre como os artistas em outros campos abordam as mesmas perguntas, então considero um sucesso. Eu não tenho outro objetivo, apenas incitar fotógrafos ser brutalmente honestos consigo mesmos e tentar descobrir quem realmente são e o que eles têm a dizer. Não se trata de provocação pelo amor à provocação. É uma jornada pessoal séria que não tem igual comoexperiência pessoal. O livro é para todos os fotógrafos que procuram a mudança, que querem fazer imagens sobre o que sentem e pensam em vez de simplesmente sobre o que vêem.
PP: Você tem alguma dica ou mensagem para os fotógrafos que buscam se consolidar neste mercado?
SM: Bem, eu tenho duas mensagens diferentes para os dois principais grupos de fotógrafos.
Para aqueles que trabalham no domínio comercial, é imperativo ser capaz de oferecer aos clientes o que o mercado pede que você ofereça, com grande qualidade e, se possível, com uma nova perspectiva que faz o trabalho ser seu. O trabalho comercial é sobre a satisfação do cliente, mas não tem que satisfazê-lo apenas da forma como ele espera. Inovação geralmente compensa se for enquadrada na perspectiva baseada em considerações de mercado. Assim, embora o meu livro seja sobre o lado autoral da fotografia, eu acho que continua a ser altamente relevante para fotógrafos comerciais à procura de novas abordagens e inovação em seus processos de criação de imagem.
Para os jovens artistas que escolheram a fotografia como sua mídia, o meu conselho é bem diferente. Fique intensamente curioso, corra riscos com o seu trabalho, quebre regras, busque novos territórios, aprenda sobre outras formas de arte, viaje para qualquer lugar que você não conheça, nunca faça concessão e seja forte. Você é um rato de laboratório e pesquisador, ao mesmo tempo e, como tal, é difícil manter o equilíbrio. Acostume-se com o fato de que é assim que deve ser.
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Cultura local forma um novo olhar fotográfico - Entrevista Scott MacLeay 1/3
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Fotógrafo artístico X Fotógrafo comercial - Entrevista Scott MacLeay 2/3
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A informação da fotografia é mais importante que o equipamento - Entrevista Scott MacLeay 3/3